Ateísmo Vs Religião - Análise Crítica

Nunca a discussão entre os que se dizem ateus e os religiosos foi tão intensa e difundida na sociedade atual e, por conseguinte, nas redes sociais que permeiam esta bela realidade alternativa chamada internet. Como sou um fã de filosofia, história, antropologia e teologia e como estudante de psicologia, me sinto na obrigação de compartilhar minha singela visão em relação a este caso, mergulhando na reflexão que nos trará, teoricamente, uma resposta sobre quem afinal está mais certo nesta questão que, ainda nos dias de hoje, pode ser considerada como tabu. Vivemos num país católico que se diz laico, essa é a verdade que tem sido mostrada. É imprescindível deixar claro que todas as afirmações que forem feitas aqui estão fundamentadas em estudos filosóficos, antropológicos and teológicos e, portanto, não é qualquer besteira que simplesmente saiu da minha mente, assim como acontece muito com o que as pessoas postam no Facebook. Prontos para uma leitura essencialmente filosófica? Pois bem, vamos lá...


Definição de Ateísmo: ausência de crença na existência de seres sobrenaturais; posição de que não existe o ser divino.

Com base neste princípio, podemos classificar o ateu como uma pessoa que possui uma crença na descrença e, ao mesmo tempo, uma descrença na crença. Explicando melhor, mesmo a ausência de crença em um ou mais seres considerados divinos pode ser classificada como uma crença, uma crença na "não existência" e, derivando-se disso, vem a negação perante a afirmação de que existe um ser divino que seja.

O ateísmo está fortemente fundamentado na ciência empírica e na crença evolucionista do surgimento do ser humano até o mesmo tornar-se do jeito que é hoje. Porém, esbarramos no primeiro ponto crucial da análise: a ciência empírica ainda não consegue, nos dias de hoje, responder a muitas perguntas e resolver muitos problemas fenomenológicos de acordo com sua lógica. Crê-se que, com o passar dos anos, a evolução trará todas as respostas que a humanidade procura a partir de estudos da ciência empírica e provará os resultados fundamentando seus estudos através de dados positivistas, que podem ser analisados, medidos, controlados, classificados, relacionados e previstos. Mas como a ciência ainda parece estar longe de responder a certos fenômenos, a religião entra fortemente na linha de frente e propõe crenças diversas:

Definição de Religião: é um conjunto de crenças que se moldam a cultura sócio-histórica de um povo e estabelecem a relação do ser humano e do mundo humano com um ou mais seres divinos e com um ou mais mundos divinos.

A religião fundamenta suas crenças em fenômenos sobrenaturais ocorridos com determinada pessoa e/ou determinado ambiente, sendo que esses fenômenos não teriam explicações científicas racionais e empíricas o bastante para ser descartada a hipótese de que tal acontecimento fora obra de uma entidade ou de uma energia sobrenatural. De acordo com a história, surgiram diferentes correntes religiosas no mundo, cada uma contendo forte influência da região planetária em que a população dali vivia.

Não vou aprofundar muito o assunto das origens e fundamentações diversas de ambos os lados, se não isso vai virar uma tese de mestrado e creio que eu ainda não estou pronto para isso, ainda...

Análise crítica filosófica do ateísmo: o ateísmo é uma corrente formada por pessoas que dizem não acreditar em uma divindade que controla o universo e, posteriormente, não acreditam também na vida após a morte ou pós-vida, seguindo a linha de raciocínio do francês Jean Paul Sartre (1905-1980), filósofo existencialista, que afirma que a morte é o fim do ser, o fim do existir.

Os ateus afirmam que não há evidências palpáveis de que existe um ser sobrenatural sequer e negam a existência de quaisquer divindades adoradas por qualquer religião. A religião (não importa qual) prega que existe um pós-vida, baseando tal afirmação na existência do sobrenatural. Então me vem a pergunta: qual o real sentido da vida, do viver, se no final de tudo, nós, seres vivos, deixaremos de existir? Por que um ateu estuda ou trabalha, se no final das contas ele vai deixar de existir? Existem milhões de respostas para essa pergunta, e muitos respondem que vivem pela sociedade ou pelo amor aos parentes e para com a vida. Mas não faz sentido amar algo que você crê que acabará para sempre um dia, do mesmo modo que é ilógico viver pelo amor ao próximo se, segundo sua própria crença, o ateu e todo o resto da humanidade irá para o mesmo lugar depois da morte: o nada.

Voltamos à pergunta então: por que você que se considera ateu e está lendo isso; por que você estuda ou trabalha? Você poderia estar fumando um baseado, bebendo uma pinga, curtindo um sexo na rua, afinal de contas, no final "não vai dar nada mesmo", não é? Então por que você meu amigo ateu sofre estudando, se mata para tirar notas em provas... Por que você faz faculdade? No final, não vai servir pra nada mesmo, vai tudo "pro saco". Sai dessa vida ateu! Sai da faculdade e vai cheirar uma cocaína que a vida é curta meu amigo! Venda os móveis da sua casa e gaste tudo no puteiro, afinal, no final, não dá nada!!! Olha que sensacional!!! Você vive por amor a sua família? Tem uma pessoa que você gosta muito e não quer morrer ou fazer coisas erradas por causa dela e de sua aprovação? Desencana ateu! No final ela vai morrer também e vocês vão sumir da existência para sempre! Estupre, porra, não espere! Deixe seus instintos o dominarem, seja esperto, seja um serial killer! Afinal, você não acredita que essas ações vão voltar-se contra você um dia, não é? Se você for preso, grande coisa! Vão todos morrer um dia, não importa de que maneira, a existência é em vão.

Não acreditar no pós-vida torna a vida sem sentido. Viver pela sociedade, pelo bem estar e pelo futuro da humanidade? Mas que lógica tem isso? Que glória existe em nascer aleatoriamente, viver aleatoriamente e morrer aleatoriamente, e ainda por cima, no futuro ser esquecido para sempre como algo que não existe mais? Busque o prazer e busque já! Ou você não consegue? Suas emoções não o deixam sair na rua matando todos os que você vê? Seria medo? Mas medo de que? De ser julgado pelas regras sócio-culturais da humanidade é que não é, pois toda a humanidade tem destino certo: o fim. Então, medo de que? O que explica o receio, a aplicação, o trabalho, os tempos difíceis? O que explica a vida de um ser que não acredita no pós-vida? Nada explica, é ilógico, irracional, não faz sentido. Pense bem... Por que? Ai entramos numa via que nos leva a duas hipóteses:

Seria o ateu uma pessoa que não consegue, neurologicamente, acreditar no pós-vida, tal qual um sociopata não consegue, neurologicamente, sentir emoções? Ou seria o ateu uma pessoa que simplesmente não quer acreditar no pós-vida? Esse é um ponto crucial desta análise. Creio eu que nunca fora realizada uma pesquisa científica especifica para analisar se o cérebro de um ateu possui alguma diferença "analisável" do cérebro de um religioso, tal qual o cérebro de um sociopata possuir uma diferença "palpável" do cérebro de uma pessoa normal. É algo a se refletir sobre. E se existisse essa diferença e a mesma fosse provada cientificamente? O ateísmo neurológico (impossibilidade cerebral de acreditar no sobrenatural) seria classificado como patologia? Ou o resto da humanidade que sofreria uma patologia desencadeada por acreditar no sobrenatural? E, qual seria o número real de ateus que não conseguem acreditar (reais) e ateus que não querem acreditar (convenientes)?

Por falar em conveniência, vamos analisar essa relação por um aspecto mais social. Todo ser humano possui necessidades, e quem conhece Abraham Maslow (1908-1970) sabe bem disso. Segundo sua pirâmide das necessidades humanas, o ser humano possui necessidade de estima que inclui os itens "respeito dos outros" e "respeito aos outros". Na pirâmide básica não aparece uma necessidade que pode ser relacionada diretamente com a "busca por conhecimento", desse modo, a relação mais aceitável que podemos realizar é que a busca por conhecimento está na parte de realização pessoal, que é, em teoria e prática, menos importante do que a estima. Existe toda uma teoria que fundamenta tal afirmação, é só pegar um livro do Maslow e ler, ok?

Portanto, partindo de tal principio, podemos afirmar que: necessidade de ser aceito socialmente > necessidade da busca por conhecimento. Creio eu que isto nem precisa ser muito aprofundado, pois na sociedade vemos inúmeros exemplos de pessoas que não querem estudar, entender, compreender; e não buscam o conhecimento, elas simplesmente querem viver, estar, ser. É ai, meus caros leitores, que chegamos na conveniência.

Definição de conveniência: interesse¹; comodidade ²; proveito; decoro³; decência.

Atentemos para o fato da palavra indicar dois significados diferentes, o que parte do interesse e o que parte da decência, como regra social. No texto a palavra conveniência sempre terá o sentido original, mais amplo, o de interesse, de comodidade.

Quando um determinado número de necessidades humanas são preenchidas, dependendo do indivíduo, ele se acomoda e não busca preencher as necessidades extras, ou mesmo simplesmente não possui, não reconhece, a busca por conhecimento como uma necessidade. É conveniente então para o indivíduo não ir atrás de coisas que ele não necessita ou entende que não necessita. Isso acontece muito com a religiosidade e com o ateísmo. Em decorrência de um aprofundamento filosófico derivado de uma conversa que tive com um amigo, Luciano Saciloto, ambos chegamos na conclusão de que existem religiosos por conveniência e ateus por conveniência, como existem religiosos fundamentados e ateus fundamentados.

Religiosos por conveniência são aqueles que se dizem integrantes de uma certa religião (necessidade de aceitação social), afirmam que acreditam nos dogmas de uma determinada religião e no contexto que a mesma apresenta sua teoria, porém, não buscam conhecimento em relação a essa doutrina religiosa e, por conseguinte, não criticam essa doutrina religiosa, tornando-se alienados aos preceitos básicos da doutrina, conscientemente ou inconscientemente. Vamos a um exemplo de religioso conveniente:

Pessoa X: Qual a sua religião?
Pessoa Y: Católica.
Pessoa X: Quantas vezes você leu a bíblia?
Pessoa Y: Nenhuma/Não sei/Eu leio em partes.
Pessoa X: Você concorda com a doutrina pregada por sua religião, seus preceitos, conceitos e dogmas gerais?
Pessoa Y: Sim/Não sei.


Pessoa Y é o clássico caso de pessoa que se diz membro de uma religião e se diz seguidora da doutrina proveniente dessa religião, entretanto não se aprofunda no conhecimento religioso proposto por essa religião e, em decorrência disso, não critica sua religião. Esse tipo de pessoa não busca conhecimento por não achar importante, necessário, ou seja, por conveniência. Isto não acontece só na religião católica, mas na esmagadora maioria de correntes religiosas possuidoras dos mais variados tipos de crenças. Isto não quer dizer que a pessoa não acredite no sobrenatural, na divindade, ela é apenas alienada em relação a sua religião e, desta forma, é alienada em relação a todas as outras religiões e tipos de crenças. Vamos agora ao ateu conveniente:

Pessoa X: Qual a sua religião?
Pessoa Y: Sou ateu.
Pessoa X: Por que?
Pessoa Y: Não acredito na existência de um Deus ou de um ser sobrenatural.
Pessoa X: Mas você já buscou estudar profundamente com especialistas, debater e/ou conviver com diferentes doutrinas religiosas que não partem do mesmas diretrizes culturais do lugar onde você vive?
Pessoa Y: Não.


Pessoa Y, neste segundo exemplo, é uma pessoa que nega a existência de um ou mais seres divinos, porém, nunca procurou estudar profundamente outras doutrinas religiosas com especialistas das mesmas que partem de preceitos diferentes das que são apresentadas em sua cultura. Ou seja, ele nega a doutrina religiosa da região em que vive, mas nunca procurou se aprofundar em outra doutrina religiosa, conhecer sua filosofia e, acima de tudo, criticar com base fundamentada. Isso parte muito do ceticismo moderno, do ser aceito em um determinado grupo social, do querer ser visto de determinada maneira e do não achar necessária a busca por conhecimento.

Em contrapartida, existem os religiosos e os ateus fundamentados. Os religiosos fundamentados são aqueles especialistas, que palestram sobre suas doutrinas e, acima de tudo, seguem-nas e criticam-as. Isso os torna uma classe de religiosos não-alienados e críticos, mas ainda sim crentes nas diretrizes básicas de suas doutrinas. Esses especialistas tendem também a serem imparciais em relação a religiosidade do próximo, a assumirem que a "verdade" proposta por sua religião não é a única "verdade" e a serem críticos sociais e ativistas.

A questão dos ateus fundamentados é um pouco mais complexa partindo do princípio da incerteza em relação ao "não conseguir" crer e o "não querer" crer. Mas, os ateus fundamentados geralmente são estudiosos que se aprofundaram em estudos religiosos de no mínimo três doutrinas distintas entre filosofias religiosas orientais e ocidentais e, mesmo convivendo e conhecendo profundamente, não conseguem acreditar que aquela filosofia prova racionalmente e/ou empiricamente a existência do sobrenatural como um todo.

Ai você me afirma como minha amiga Gabriela Esma afirmou: um ateu, que não acredita no pós-vida, pode valorizar esta vida já que é a única que está vivendo e, por esse motivo se ater as regras da moral e da ética social visando sua sobrevivência pelo maior tempo possível e da melhor maneira. Eu concordo, faz todo sentido, mas eis um fato lógico que anula tal possibilidade: um ateu poderia se ater as regras sociais sim, porém, seria normal, na primeira oportunidade que tivesse, o mesmo burlar as regras morais sociais para se favorecer. Afinal, se ele não for pego pela justiça daqui, não há outra justiça. E se formos considerar todos os ateus dessa maneira (respeito mas burlo quando possível), estaríamos categoricamente afirmando que ateu = sociopata. Pra quem não sabe e nunca leu o livro "Mentes Perigosas" da Ana Beatriz Barbosa Silva, o sociopata é egocentrista e é incapaz de sentir emoções pois determinada área cerebral do mesmo é atrofiada. Ele então tem a noção racional normal como a de qualquer ser humano; ele se porta de acordo com o meio em que está inserido, entretanto, na primeira oportunidade que tem, ele se aproveita da situação em favor próprio, doa a quem doer, morra quem tiver que morrer. Como não temos base cientifica para afirmar que a relação ateu/sociopata é algo que vai além do teórico, não vamos aprofundar a questão.

Mas e os que dizem acreditar em Deus ou no sobrenatural de uma maneira geral e cometem crimes infringindo a lei da própria crença? É muito comum, não é? Isso acontece, usando o Brasil como exemplo por ser um país católico, por causa da ideia de um Deus essencialmente misericordioso que é passada pela igreja. Não que Deus não possa ser misericordioso, mas a interpretação dessa misericórdia é muitas vezes distorcida e manipulada e esta interpretação equivocada e/ou errônea, por sua vez, generalizada. As pessoas acham que se pecarem, mas se tiverem um motivo para tal, Deus as perdoará se as mesmas se mostrarem arrependidas (mesmo que não estejam, ou o farão na hora), pois ele irá "entender e relevar" o seu pecado. Isto é um caso clássico de alienação, pois eu redijo aqui a pergunta que saiu na revista americana Newsweek do dia 09/;04/12: Por que Jesus se afastou tanto da igreja? Por que as pessoas aceitaram, por comodidade, a interpretação equivocada de que serão perdoadas por quase tudo (uns acham que por tudo) e, dessa maneira, não buscam o conhecimento para não terem que lidar com a ideia do contrário, de que estão essencialmente erradas, pois quem ai gosta de se sentir culpado? Ninguém gosta, então ser alienado é isso, consciente ou inconscientemente, fugir da culpa fundamentando pensamentos e comportamentos no senso comum.

Se você se diz membro de uma religião e só vai na sua igreja para celebrar casamentos ou se é ateu mas nunca estudou nenhuma religião profundamente, parabéns! Você é uma pessoa conveniente, cômoda e alienada, que não tem base nenhuma na sua crença e/ou descrença, e isso lhe torna, de certa forma, mais hipócrita do que a maioria dos seres humanos. Olha que façanha hein! Corra e conte para seus amigos que você não tem a mínima ideia do que acredita, se acredita, e que você vive de acordo com as ondas do mar social e, para onde elas te levarem, você vai, e vai feliz.

Agora continuando, vamos fazer uma pequena crítica sobre as religiões, já que, fizemos sobre o ateísmo.

Análise crítica filosófica da religião: religião é o conjunto de crenças e valores que determinam a existência de um ou mais divindades que existem no mundo real (geralmente não-visíveis; as vezes visíveis) e/ou em demais mundos (dimensões) e que, em alguns casos, trata-se de uma entidade denominada Deus, um ser onipotente, onisciente e onipresente; geralmente apresentado de forma indefinível e inimaginável.

Existem muitas igrejas que definem Deus, e esse é um erro. Como Deus pode ser definido se não pode ser visto ou mesmo imaginado? E se pode ser definido, qual das milhares de definições é a mais correta e plausível? Impossível saber. O fato é que cada pessoa neste mundo que crê na existência de Deus o imagina de uma determinada forma e possuidor de determinadas características: uns acreditam que seja um velhinho que mora nas nuvens e que segura seu cajado enquanto outros acreditam que Deus é a energia que criou o universo, que tem sua lei intransponível e que é o criador do tempo. O mais complicado é que eu entendo alguns ateus que apontam contradições dentro de certas instituições religiosas como as de origem cristã, por exemplo. Como podem existir pastores e líderes que fazem tudo aquilo que pregam para os outros não fazerem, pois estes irão para o inferno se o fizerem? Será que eles acreditam mesmo em Deus ou estão apenas comandando sua empresas? Eles não percebem que acabam denegrindo a própria imagem deles com isso e, se Deus existir, eles estão indo completamente na "contramão"? E as contradições bíblicas (tanto de informações, como de interpretação e tradução)? Por que a bíblia do protestante é diferente da bíblia do católico se eles seguem o mesmo Cristo? Quem está certo se existem várias versões da mesma história e se é comprovado que as bíblias foram modificadas ao longo dos séculos?

É complicado, é muito complicado. Nas religiões orientais, geralmente a existência de Deus não é tão definida quanto nas religiões ocidentais, tornando algumas teorias interessantíssimas de se estudar, como o próprio Budismo, a Sekai Kyusei Kyo e o Seicho No Ie. O Budismo, por si, é uma religião ateísta, ou seja, não acredita na existência de um Deus, mas acredita em reencarnações e outros mundos. Porém, o termo ateísmo, ao meu ver, ele significa primordialmente o "não acreditar no sobrenatural" ao invés do "não acreditar em um Deus". Então, de acordo com esta linha de raciocínio que adoto, uma pessoa que segue uma doutrina religiosa pode não acreditar em Deus ou na existência de um ser divino sequer, porém, se acredita no sobrenatural, não é caracterizada como cético. Doutrinas ateístas como o Budismo e o Taoismo, ao meu ver, não são essencialmente ateístas, e esse termo é confundido e as vezes mal interpretado. Quando eu me refiro a ateu, eu me refiro a cético, ou seja, aquele que não acredita no sobrenatural como um todo. Estou usando o termo ateu para facilitar o entendimento e expandir um pouco mais a questão na tentativa de que haja uma reflexão em relação aos próprios termos, pois, nada impede de um indivíduo se considerar ateu e acreditar no sobrenatural, apenas não em um Deus onipotente, onisciente e onipresente. Então que fique bem claro que, pelo menos neste texto, o termo ateu corresponde ao ateu cético, aquele que não acredita no sobrenatural.

Agora experimente colocar um ateu (ou cético) fundamentado de frente com um especialista religioso. Será que vai dar briga? Quem vai dar o primeiro golpe? Quem vai desmerecer a crença ou a descrença do outro primeiro? Acredite, nenhum vai desmerecer o outro. Por que? Porque o ateu, apesar de fundamentado, ele está buscado o conhecimento, o motivo de "estar" aqui, o "além de ser"; ele quer as explicações, ele quer sentir, ele quer a lógica. E o religioso vai justamente explicar e re-explicar sua teoria e inclusive criticá-la juntamente com o ateu. Outro aspecto interessante de se analisar é de que todos sabemos que a religião é uma das pilastras da moral na sociedade e, sem religião, sem a crença no pós-vida, a própria vida racionalmente perde o sentido, portanto, a sociedade transformaria-se no completo caos. Esse papel social da religião é reconhecido pelos ateus fundamentados. Esta situação deu origem à frase: "o verdadeiro ateu inteligente não nega a existência de Deus para o seu próprio bem."

Partindo do ponto de vista filosófico, o ateu fundamentado não acredita no sobrenatural por falta de evidências empíricas, mas em compensação a sua descrença não tem lógica racional se seu comportamento for definido pelas regras sociais e não pelas regras da busca pelo prazer. O verdadeiro religioso é desfalcado pela impossibilidade de provar empiricamente a teorias do sobrenatural, ele pode até sentir, outros podem sentir, milhões podem sentir, mas como fazer um ateu sentir? O que lhe dá base é que, racionalmente, ele age de acordo com sua crença no sobrenatural e no pós-vida, o que explica seu comportamento ser regido pelas regras de seu Deus e posteriormente sócio-culturais.

Quem ai já estudou empirismo e racionalismo no colégio? Ensino médio, "terceirão", e aquela professora chata de filosofia... É meu amigo, quem poderia imaginar que esta discussão nos traria de volta até esse ponto da filosofia? O ateísmo esbarra no racionalismo e a crença no sobrenatural e no pós-vida esbarra no empirismo positivista. E agora José? Jhon Locke (1632-1704) e René Descartes (1596-1650) nunca imaginariam que essa questão poderia reduzir essa polêmica do acreditar ou não no sobrenatural a uma questão filosófica. Muito menos os existencialistas Sören Kierkergaard (1813-1855) e Jean Paul Sartre (1905-1980), um religioso e um ateu; onde um influenciou o outro na criação do existencialismo. Sartre inclusive escreveu um livro de mais ou menos 500 páginas sobre o "nada" e como ele não existe. Você que tem dificuldades para fazer uma redação de 20 linhas, já imaginou escrever um livro de 500 páginas sobre o nada? O cara era um gênio. Kierkergaard não fica atrás. Apesar de ter forte influência religiosa em sua vida, o mesmo criticou sua religião, criticou a igreja e desenvolveu um padrão "rebelde" de filosofia, criando um modo único de pensar sobre a existência.

Podemos afirmar, até aqui, que não faz sentido acreditar no sobrenatural, mas também não faz sentido não acreditar no sobrenatural. Não pode ser provado para todos que existe, mas também não pode ser provado que não existe. Mas há um porém: a unanimidade das pessoas verdadeiramente religiosas, independente da crença, diz "sentir", quer dizer, empiricamente, a existência do sobrenatural. Outras pessoas dizem ver espíritos, etc... Esta informação é extremamente relevante, pois apesar de serem experiências empíricas individuais, se estas pessoas não são consideradas loucas e/ou não possuem patologia cientificamente provável, elas atingiram o ápice, que seria a junção do racionalismo com o empirismo numa percepção além da normalidade. Abrem-se novas hipóteses: se uma pessoa que diz ver espíritos, por exemplo, passar por testes científicos e psicológicos rigorosos e não for diagnosticada nenhuma anomalia, patologia ou influência significativa que possa alterar a subjetividade para além da normalidade de "ser" um ser humano, estaríamos perto da prova de que sim, o sobrenatural existe.

Esta hipótese juntamente com a hipótese apresentada antes sobre a possibilidade de um ateu ser incapaz neurologicamente de acreditar nos leva a crer que a essência da hipótese do ateu é negativa e a essência da hipótese religiosa é positiva. Ou seja, se fosse provado que um ateu é incapaz de acreditar por determinada característica cerebral, considerando que os ateus são minoria mundial e os por conveniência abrangem aproximadamente mais de 75% destes, essa diferença cerebral seria classificada como anomalia, ou traduzindo para o popular, doença. Se não fosse provado isso, ficaria do jeito que está. Agora se fosse provado cientificamente que uma pessoa que diz sentir o sobrenatural e/ou ver o sobrenatural é, neurologicamente e psicologicamente, tão normal quanto qualquer outro religioso ou ateu conveniente, a probabilidade de provar com dados analisáveis positivistas a existência do sobrenatural só iria aumentar, e iria aumentar muito. Então, seguindo esta linha de raciocínio, chegamos a conclusão de que: se analisadas as hipóteses e feitos os testes, não importassem os resultados, no mínimo, a questão se manteria equilibrada, pois qualquer uma das hipóteses provadas culminaria no fortalecimento da teoria de existência do sobrenatural.

Existe também uma pesquisa muito interessante e cientifica que em 1907 tentou provar que a alma possuía peso. O americano Duncan MacDougall (1866-1920) fez um experimento de cunho cientifico se utilizando de uma metodologia não confiável e, dizia ele, que a alma varia e de fato teria e peso. Essa pesquisa foi difundida erroneamente como algo que foi realmente provado cientificamente, mas apesar de não ter uma metodologia confiável, a ideia de MacDougall é interessante. E se hoje em dia, mais de 100 anos depois, fizéssemos a mesma pesquisa? Imagina só provar que a alma tem peso! Seria mais uma hipótese a favor da teoria da existência do sobrenatural. E se pensarmos bem, a maioria das hipóteses que podemos criar hoje a partir dos dados que possuímos nos leva na direção de que o sobrenatural existe ao invés de que ele não existe.

Como conclusão eu deixo simplesmente o fato de que estamos mais perto de provar o sobrenatural do que de provar sua inexistência, e isso não sou eu quem falo, são os dados científicos. Se as pesquisas em relação as três hipóteses fossem realizadas, no mínimo, ficaríamos mais perto ainda da resposta religiosa sobre a existência. Então, partindo desse pensamento, é possível afirmar que não faz sentido acreditar no sobrenatural, mas faz ainda menos sentido não acreditar. Se você conseguiu ler isto até aqui e possuir alguma dúvida ou quiser compartilhar de informações e/ou análises, estou disponível no Facebook. Novas opiniões e pontos de vista são sempre bem-vindos, desde que fundamentados e subjetivamente imparciais.

A verdade sobre essa questão é a de que: quem viver verá, e quem morrer talvez também veja e, dependendo da situação, até antes de quem viver.


Referências Básicas:

ARANHA, M. L A.; MARTINS M. H. P. Filosofando - Introdução à Filosofia. - 2ª ed. São Paulo, Moderna, 2002.

CHAUÍ, Marilena; Convite à Filosofia. 14ª ed. São Paulo, Ática, 2010.

SILVA, A. B. B.; Mentes Perigosas - O Psicopata Mora Ao Lado. - Fontanar, 2008.

[anomalyinfo.com/articles/sa00106.php]

[ceticismo.net/ceticismo/uma-introducao-ao-ateismo/]

[www.budismo.com.br]

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[www.messianica.org.br]

[super.abril.com.br/ciencia/ciencia-espirita-647060.shtml]