Na Sala Dos Pensadores - #Amor

Numa sala de estar em qualquer lugar, conversávamos sobre o amor...

- O amor é um problema que só a morte ou o casamento resolve. – proferiu Machado de Assis. Em contrapartida, Félix Pacheco retrucou:

- Sempre o amor pôde mais que a própria morte.

- Quando se quer bem a uma pessoa, a presença dela conforta. Só a presença, não é necessário mais nada. - manifestou Graciliano Ramos. Sentindo-me inquieto, também expressei minha humilde opinião:

- O amor não correspondido dilacera o coração. Mas o amor correspondido e aceito, mesmo que tardiamente, cura todas as feridas e traz a vida à plenitude novamente.

Chegando ao recinto naquele instante estava Capistrano de Abreu, que antes mesmo de acomodar-se, enquanto estava a manter o olhar fixo ao meu, disse a todos o que achava do amor:

- As obras do amor são as únicas que pagam o sacrifício.

- Em amor as recaídas são sempre mais graves, se não funestas! – afirmou Afrânio Peixoto.

Saindo das profundezas da ilimitada saleta, William surpreendera a todos com sua ilustre presença. Senti-me estranho em vê-lo trajando as vestes de seu tempo. Enquanto se aproximava dos demais cavalheiros, questionou a todos sua eterna dúvida sobre o amor:

- Por que o amor, aparentemente tão doce, é tão prepotente e tão brutal quando posto à prova?

- Se o amor nos faz viver, amor nos mata. – respondera a Shakespeare, Guerra Junqueiro.

- Um amor, para ser belo, não precisa ser eterno. – esboçou Júlio Dantas.

- Mas... sabendo que amor só cresce: quando se reparte por inteiro, e se deixa de crescer, de ser amor também deixa. – disse Thiago de Mello.

- As breves ausências estimulam o amor; as grandes, matam-no. – bocejou Mirabeau.

Um minuto de silêncio pôde ser contemplado naquele local, onde os pensadores tentavam encontrar uma resposta, mesmo todos tendo certeza de que essa não existia. Após alguma intimidação, resolvi continuar com a pauta:

- Um amor nunca morre ou deixa de ser amor, ele apenas adormece, podendo despertar com a mesma intensidade.

- Infelizmente pode-se estar apaixonado aos oitenta anos. É tarde demais para os outros, mas não para a gente. – disse-me Jorge Luis Borges.

- O amor é uma simpatia e seu efeito pode durar uma vida inteira, se o seu encanto não for quebrado por qualquer besteira. – concordou Pléas Hawthorne, sentado em sua cadeira de rodas.

- O homem que ama é um conquistador vencido por sua conquista. – acrescentou Vargas Vila.

- O amor verdadeiro escraviza os homens e promove as mulheres com a distinção de rainhas. – concluiu Pléas, por hora.

Virei-me para Pléas e disse-lhe algumas palavras, não discordando de sua compreensão.

- O passatempo favorito do amor é brincar com a ironia. Tantas loiras na minha vida, e é justo a morena que me deixa de joelhos.

Ao ouvir minha confissão, Júlio Diniz chamou minha atenção e me disse a sua opinião:

- Ninguém sabe por que ama ou por que não ama. É uma coisa que se sente, mas que não se explica.

- Nenhuma criatura humana pode controlar o amor. – disse George Sand.

- O amor é uma dúvida que coloca na pessoa uma incerteza. Quem ama, sabe que ama, quem é amado, nunca tem do amor a plena certeza. – afirmou Pléas a mim.

- A grandeza do amor está na impossibilidade de sua catalogação, cristalização, definição, congelamento em fórmulas, formas e fôrmas. – proferiu Artur da Távola, que passava ao acaso por ali.

- Amor, pólvora que se acaba com a primeira explosão. – disse José Américo de Almeida, fitando o nascer do Sol pelo rasgo da cortina que envolvia a janela.

- A mulher fiel tem dúvidas e curiosidades sobre o gosto do pecado, a infiel conhece o sabor amargo do arrependimento. – suspirou Pléas.

- O amor não é uma futilidade ou divertimento; é um sentimento profundo que decide uma vida. Não há o direito de o falsificar! – exclamou Júlio Dantas, fazendo suas palavras ecoarem em meio ao espanto de todos. Aproveitando a deixa, concluiu:

- Mesmo porque, antes de se amar profundamente, não se viveu ainda; e, depois, começa-se a morrer.

- O amor é a condição da própria vida! – bradou Menotti Del Picchia.

- Além do amor não há nada; o amor é o sumo da vida. – concordou Carlos Drummont de Andrade.

- Quem ama fica cego, mas em compensação, cria um sexto sentido. Que dificilmente será enganado com carinhos fingidos. – acrescentou Pléas Hawthorne.

- Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante, é a do amor implorado; pois ainda não se inventou uma vacina contra os males da alma produzidos pelo amor. – findou Carlos Drummont de Andrade.

- O amor é um, não pode ser partido. – proferiu Camões, de passagem pelo local.

- Amar é como uma rosa. Quem ama de verdade não se incomoda com as farpas dos espinhos. – afirmou Pléas, preparando-se para deixar o recinto.

- O amor é a primeira condição da felicidade do homem. – opinou Camillo Castello Branco.

- Um baixo amor os fortes enfraquece. – proferiu Camões.

- Tudo se pode amar muito bem, ainda um pedaço de madeira velha. – acrescentou Machado de Assis.

- Quando o amor é verdadeiro, não há preocupação com o dinheiro, apenas com a felicidade. – proferiu Pléas Hawthorne, ainda acrescentando mais algumas palavras antes de deixar o recinto definitivamente – Perdão de amor sempre vira um dilema para alguém que entregou o seu coração. Perdoa com medo de perder a pessoa amada, mas deixa a tristeza no coração algemada; porém, a meiguice compensa qualquer beleza, a compreensão qualquer riqueza, e a bondade qualquer tristeza.

- Quem amou nunca esqueceu, quem esqueceu nunca amou. – concluiu Antônio Feijó.

E o movimento naquele recinto era intenso, e eu ficava a filosofar em meio a todos que ali se encontravam, e a conversa mudava de rumo, e esta estava longe do fim...